Confira abaixo:
Antes de ser conhecida como Piracicaba, a cidade recebeu oficialmente o nome de Constituição — e essa curiosidade guarda um pedaço importante da história política e cultural do município que hoje é um dos principais centros do interior paulista.
Das margens do rio à fundação da vila
A história começa em 1º de agosto de 1767, quando foi fundada a povoação de Piracicaba, às margens do rio que deu origem ao seu nome, em um trecho onde hoje se localizam o Engenho Central e o bairro Vila Rezende.

A fundação foi determinada por Dom Luiz Antônio de Souza Botelho e Mourão, então governador da Capitania de São Paulo, que ordenou a criação de seis novas povoações. Coube a Antônio Corrêa Barbosa executar a tarefa. Embora a ordem inicial fosse estabelecer a vila próxima à foz do Rio Piracicaba, no Tietê, Barbosa optou por fundá-la cerca de 70 quilômetros rio acima, onde já existiam pequenos ranchos, hortas e pomares mantidos por pescadores e sertanejos — a base da futura cidade.
De freguesia a cidade: o nascimento de Constituição
Com o crescimento da povoação, em 21 de junho de 1774, Piracicaba foi elevada à categoria de freguesia, separando-se administrativamente de Itu. Mais tarde, em 10 de agosto de 1822, a freguesia tornou-se vila e ganhou o nome de Vila Nova da Constituição, em sintonia com o clima político do país que, naquele mesmo ano, proclamava sua independência.

O novo nome refletia o espírito de uma nação em formação — uma homenagem ao ideal constitucionalista que inspirava o Brasil imperial. Em 24 de abril de 1856, a Vila Nova da Constituição foi elevada à categoria de cidade, passando a se chamar simplesmente Constituição.
Durante mais de 20 anos, esse foi o nome oficial da atual Piracicaba. Documentos, registros civis e correspondências da época usavam a denominação “Constituição” para se referir ao município que crescia às margens do rio.
O papel de Prudente de Moraes na volta ao nome Piracicaba
Foi apenas em 1877 que o nome Piracicaba voltou oficialmente, graças à iniciativa do então vereador Prudente de Moraes, que mais tarde se tornaria o primeiro presidente civil do Brasil.
Segundo registros históricos, Prudente apresentou uma petição à Câmara Municipal solicitando a mudança do nome da cidade, argumentando que Piracicaba tinha raízes culturais e históricas mais profundas, além de carregar o significado simbólico do rio que a atravessa.

O termo vem do tupi “pirá-sy-caba”, que significa “lugar onde o peixe para”, referência ao salto natural do rio que corta a cidade e impede a passagem dos cardumes — símbolo que, até hoje, representa a identidade piracicabana.
A proposta de Prudente foi aceita, e o nome Piracicaba foi restabelecido em 1877, retornando à sua origem indígena e à conexão com o território e o rio.
A “Florença brasileira”
Desde então, Piracicaba consolidou-se como um importante polo econômico, cultural e educacional do estado. No século XX, ganhou o apelido de “Florença brasileira”, pela beleza natural de suas paisagens e pela intensa produção artística e intelectual — um reconhecimento ao equilíbrio entre natureza, cultura e desenvolvimento urbano.
Hoje, mais de dois séculos e meio após sua fundação, Piracicaba mantém viva sua história e o orgulho de suas origens. Do nome “Constituição” ao retorno às raízes indígenas, a cidade demonstra como o tempo e a cultura moldam a identidade de um povo.
Porque, em Piracicaba, onde o peixe para, a história segue fluindo.
Por Brayan Gonçalves